Embate entre Trump e FED afeta o mundo todo, apontam especialistas

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A tentativa do presidente americano de demitir uma diretora do banco central levanta dúvidas sobre a independência da instituição e pode impactar juros, dólar e mercados globais

Fonte: Reprodução – InvestNews

Belém (PA) – A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de demitir Lisa Cook, diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), abriu uma nova frente de tensão entre a Casa Branca e a autoridade monetária mais influente do planeta. Cook anunciou que não aceitará a decisão e pretende recorrer, mantendo em aberto um impasse que já repercute nos mercados globais.

Economistas destacam que qualquer mudança na condução do Fed tem impacto direto sobre juros, dólar e fluxos financeiros em escala global. Isso porque a taxa de juros americana influencia a atratividade dos títulos do Tesouro dos EUA, considerados os ativos mais seguros do mundo. Quando os juros sobem, o fluxo de capitais se concentra nos EUA, fortalecendo o dólar e encarecendo transações internacionais, em especial no comércio de commodities. O efeito, segundo analistas, é pressão inflacionária em outros países, forçando bancos centrais a agir.

Por outro lado, se Trump conseguir impor cortes agressivos de juros, como vem defendendo desde sua posse, o movimento pode ter efeito contrário: queda global nas taxas de financiamento no curto prazo, mas com risco de inflação maior no futuro. “Se os juros vêm para baixo de forma exagerada, o preço disso é inflação lá na frente”, alerta Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

O impasse já se refletiu no mercado de títulos americanos nesta terça-feira. Os yields de prazos curtos, como 2, 5 e 10 anos, recuaram, enquanto os de prazos mais longos, de 20 e 30 anos, subiram. Sinal de que investidores enxergam cortes imediatos de juros, mas risco de inflação adiante.

Outro ponto sensível é a independência do Fed. Para Ian Lima, gestor da Inter Asset, a demissão de Lisa Cook poderia comprometer a previsibilidade da política monetária americana. “O Fed sempre foi visto como uma instituição técnica. Se ele deixa de ser independente, gera insegurança e descontrole”, afirma.

Apesar da tensão, parte do mercado acredita que Trump pode recuar, como já ocorreu em outras ocasiões. Há também a possibilidade de que novos diretores indicados pelo presidente atuem de forma técnica, ainda que o processo atual traga ruídos.

No pregão desta terça, a reação foi contida: o dólar subiu 0,34%, a R$ 5,433, e o Ibovespa recuou 0,18%, fechando a 137.771 pontos.

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